domingo, 15 de abril de 2012

Despedida desnecessária

Faca e Sangue

Sinto que este é o último dia de minha vida! Dia que, por mim, não existiria. Somente queria viver. Somente queria curtir minha vida, andar, correr, e ser feliz como a maioria dos humanos são.

De fato, ainda não entendi o que fiz para merecer o que vou ter hoje. Mesmo assim, pelo o que percebo, é pelo fato de eu ter sido quem eu sou. Seres como eu já nasceram com um único destino certo: a morte causada por uma coisa tão fútil. Uma morte dolorosa, que poderia ter sido evitada com a boa consciência dos homens. Homens que não enxergam em mim um ser como eles e querem, simplesmente, cometer um abuso ridículo sobre mim.

Por que nasci assim? Porque sou quem sou? Simplesmente, é difícil me contentar pelo fato de eu ser visto pelos homens como apenas um “objeto”. Um objeto que, sofrendo a morte, servirá para o prazer alimentar de alguém.

Vejo o ser humano como um ser rude e cruel, embora existam aqueles que pensam no que eu e tantos como eu sofrem. Vejo o homem como um ser que quer se apoderar dos mais fracos, como eu, para satisfazer seus prazeres. Ainda mais estes homens que estão aqui. Em seus olhos, não vejo compaixão, nem amor. E me pergunto: como conseguem dormir sabendo o que estão fazendo? Como conseguem dormir, sabendo que são tão rudes?

Fiz tantos amigos aqui. Mas, muitos deles, já sofreram o destino que, daqui a pouco, vou sofrer. Ouvi os gritos dolorosos deles, e minha alma ficou, basicamente, transpassada por uma faca. Está certo! Vou, realmente, ser transpassado por uma faca. Uma faca que poderia ser usada para outra coisa. E já estou vendo um corredor de sangue…

Está chegando a hora, e o medo toma conta de mim a cada segundo. Ouço tantos gritos de amigos meus, e gritos tão horríveis. Se fosse humano, iria ajudá-los. Mas, minha condição é de, simplesmente, ter o mesmo destino deles. O destino de ser um prato na mesa de alguém. O destino de derramar, desnecessariamente, todo o meu sangue…

Termino minha vida, desejando que alguém pense em mim. Posso estar na mesa de qualquer casa no mundo, simplesmente, satisfazendo o prazer de alguém que, talvez sem saber, permitiu meu sofrimento para se sentir bem. Permitiu meu sofrimento para comemorar alguma coisa, ou para, simplesmente, comer minha carne, porque é boa.

Adeus!

Texto baseado no seguinte artigo: http://www.institutoninarosa.org.br/textos/artigos/356-ultimo-dia-condenado

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